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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O MST e as laranjas. A sensatez adverte: miséria pode causar perda de paciência


A melhor análise que li sobre o episódio “laranjas e MST”, de longe, foi no blog do jornalista e cineasta Maurício Caleiro, principalmente por esta frase: “E, acima de tudo, O MST é um assassino de laranjas! E ainda que as laranjas fossem transgênicas, corporativas, grilheiras, estivessem podres, com fungos, corrimento, caspa e mau hálito, eles têm de pagar pela chacina cítrica!”

Outra parte do texto que gosto muito é quando Maurício Caleiro questiona sobre as condições de vida dos acampados e a cobrança da mídia por sensatez em suas ações: “Ora, o MST é um movimento social nascido da miséria, da necessidade e do desespero. Eles estão em plena luta contra uma estrutura agrária arcaica e concentradora. Não se pode esperar sensatez de movimentos sociais da base da pirâmide social, que lutam por um direito básico do ser humano. Pelo contrário: é justamente a insensatez, a ousadia, a coragem de desafiar convenções que faz do MST um dos únicos movimentos sociais de fato transgressores na história brasileira.”

E, finalmente, o comentário sobre a inversão de valores praticada pela mídia: “Para a mídia, pés de laranja valem mais do que a vida humana, quero dizer, a vida subumana de um miserável que cometeu a ousadia suprema de lutar para reverter sua situação. Mas os bárbaros, claro está, são o MST. Por isso, haja o que houver, o MST é o culpado.”

Clique aqui par ler o post na íntegra.

Eu me lembrei desse comentário quando ouvia a militante do MST, no IV Seminário do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, em Brasília, no último dia 12/11.

A jovem militante, integrante do programa de proteção, demonstrando um misto de revolta, desespero, angústia e sensatez, contou-nos que vive sob ameaça de morte e já teve um primo e um tio assassinados a mando de latifundiários.

O que me chamou muito a atenção é que não percebi, apesar da gravidade da situação, um sentimento de vingança pessoal na voz da militante do MST, mas de confiança e chamamento à Justiça. Por um instante passei a acreditar, de fato, que o povo brasileiro é pacífico e resignado, pois não era possível sofrer tanta violência e não sentir um gosto amargo de fel na garganta e contaminar a voz com o sentimento de vingança e transformar o gosto de fel em gosto de sangue.

Esta esperança na Justiça é um forte chamamento ao Poder Judiciário e à Magistratura brasileira. Precisamos corresponder a este chamado. Contribuir e lutar pela realização da reforma agrária. Transformar sem-terras em agricultores. Fazer cumprir o projeto constitucional de construção de uma sociedade livre justa e solidária.

E fazer isto com pressa e enquanto é tempo. Antes que os acampados sem-terra percam a paciência e a resignação; que deixem de acreditar na justiça; que ao invés de laranjais, tratores e sedes de fazendas, resolvam descarregar em pessoas sua contida e secular revolta.

Portanto, ao invés de criminosos e inimigos cometendo crimes, vejo as ações do MST como uma advertência à sociedade brasileira: miséria não combina com sensatez e pode causar perda de paciência e de resignação.


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